Por Augusto do Jornal
As páginas dos jornais brasileiros reproduzem diariamente inúmeros casos de violência praticados por homens contra as mulheres. Muitos de nós conhecemos familiares ou amigas que passaram por situações críticas de maus tratos, de brutalidade.
Há também ocasiões em que as mulheres se calam, por conta do medo, por saber que serão novamente agredidas, por ter em mente que não receberão apoio e acolhimento.
Por outro lado, existem pessoas que não se calam. Michella Marys Pereira é uma delas. Estudante de direito, separada após treze anos de seu casamento com o advogado Roberto de Figueiredo Caldas, ela o denunciou à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, em Brasília, por conta de diversas agressões que alega ter sofrido: socos no estômago, pontapés na virilha, tapas na cabeça, murros no rosto, puxões de cabelo, ameaça de morte, além de humilhações gravadas em áudio. A favor de Michella também foram colhidos relatos de testemunhas.
Caldas era juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos e renunciou ao cargo após o conhecimento público das denúncias da ex-esposa. É muito provável que o advogado se escondia atrás de sua função por se achar tão poderoso a ponto de bater na própria companheira. Acreditava ser imune à Justiça, devido à sua posição, e por se valer da pasta dos direitos humanos.
Apesar da queda de Caldas, infelizmente, nosso país amarga o título de ser um dos mais violentos do mundo. Seja contra as mulheres, seja contra os pobres, seja contra os negros. Em média, doze mulheres são assassinadas por dia no Brasil. A cada sete segundos, uma mulher sofre violência doméstica. Só em 2017, 4.473 homicídios dolosos vitimaram mulheres em todo o território. Desse número, houve 946 feminicídios (crimes de ódio motivados pela condição de gênero) notificados. Em recente relatório da Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocupa a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres.
E como reage a sociedade? No caso de Michella, não assisti a nenhuma manifestação de solidariedade por parte de pessoas que geralmente se “revoltam” em outras situações, vão às ruas, erguem faixas de protesto, colocam a “boca no trombone”. Por aqui é assim mesmo, depende da vítima. O Partido dos Trabalhadores se limitou a soltar uma nota, assinada pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT, repudiando a violência praticada contra Michella.
O PT só não admite os erros do passado, como o da ex-presidente Dilma Rousseff, responsável pela indicação do próprio Roberto Caldas para o cargo de juiz da Corte Interamericana.
Nos últimos anos, o Brasil avançou no sentido de criar mecanismos de proteção às mulheres, como a Lei Maria da Penha, as delegacias específicas do gênero, a Lei (13.104/15) que transformou o feminicídio em crime hediondo.
É preciso dar um basta à violência contra as mulheres. E todos nós devemos ter o compromisso de denunciar qualquer tipo de agressão e assédio, muitas vezes praticados por alguém escondido atrás de sua posição no trabalho.
José Augustinho dos Santos, o Augusto do Jornal, é presidente do SEECMATESP, 2º vice-presidente da FETHESP, diretor nacional de Finanças da CGTB, e pré-candidato a deputado federal pelo PPL