Entrevista com José Augustinho dos Santos, presidente do SEECMATESP e 1º diretor de assuntos sindicais da FETHESP
Augusto do Jornal (à direita) e Pedro Clementino, diretores do Sindicato dos Empregados em Manutenção de Elevadores do Estado de SP
José Augustinho dos Santos, o Augusto do Jornal, possui grande experiência no sindicalismo, atuando há anos em entidades como o Sindicato dos Empregados nas Empresas de Conservação, Manutenção e Assistência Técnica de Elevadores e Similares do Estado de São Paulo (SEECMATESP), a Federação dos Empregados em Turismo e Hospitalidade do Estado de São Paulo (FETHESP) e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
Politizado e sempre bem informado, é leitor assíduo de diversos meios de comunicação e também colunista de jornais da região de Ferraz de Vasconcelos/SP, onde reside. Foi esse grande interesse pelo jornalismo que rendeu a ele o apelido de “Augusto do Jornal”, em 2001, quando em conjunto com companheiros do movimento sindical criou os jornais “Agora Ferraz” e “Bairro a bairro”, que circulavam também em Ferraz de Vasconcelos, nos quais divulgava ações sociais e denunciava irregularidades cometidas pelo poder público.
No SEECMATESP, Augusto iniciou seu mandato como presidente em fevereiro deste ano, tendo sido eleito com 90% dos votos no pleito realizado em 16 de novembro de 2015. No dia 1º de junho ele concedeu uma entrevista à FETHESP para falar sobre suas diretrizes para os próximos 5 anos à frente do sindicato, que representa cerca de 9 mil trabalhadores no Estado de São Paulo, a expectativa da categoria para a campanha salarial 2016 e o atual momento do movimento sindical e da política.
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FETHESP: Você foi eleito no dia 16 de novembro de 2015 para um mandato de 5 anos à frente do sindicato. Qual será o foco da sua administração como presidente do SEECMATESP?
José Augustinho dos Santos: Em primeiro lugar, nós mudamos a metodologia da Diretoria, estamos dando metas para cada diretor. Somos em 12 diretores e todos têm a obrigação de trazer, mensalmente, 10 associados para o quadro associativo da entidade sindical. Com isso, aumenta receita, estrutura, e ganhamos mais representatividade. O segundo passo é, nos próximos 2 anos, comprar uma sede própria para a entidade sindical, haja visto que, como ela vive de aluguel, despende um valor muito alto anualmente. O terceiro passo seria inserir a entidade sindical nas grandes políticas nacionais e praticar, realmente, o sindicalismo cidadão, com parcerias, com incentivos à questão do esporte, que é saúde, entretenimento e o envolvimento de diversas pessoas.
FETHESP: A atual crise no cenário político e econômico teve reflexo para a categoria dos empregados em empresas de conservação, manutenção e assistência técnica de elevadores?
Augusto: A crise econômica é muito propagada pelos meios de comunicação, mas não são todos os setores que estão em crise. O termômetro que as entidades sindicais têm são dados do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), do Ministério do Trabalho, do Ministério da Fazenda, tendo também como base o dia-a-dia das homologações. No nosso caso, das 40 homologações que fazemos mensalmente, 35 trabalhadores são absorvidos novamente pelo mercado de trabalho no mesmo segmento. Enfim, no nosso setor não temos crise. Agora, na nossa área há empresas que dependem exclusivamente da construção civil, como a Otis. Como essa crise afetou o investimento federal nos programas habitacionais e também algumas empreiteiras envolvidas na Lava Jato, nesse caso, a Otis sentiu o baque.
"Das 40
homologações que
fazemos mensalmente,
35 trabalhadores são
absorvidos novamente
pelo mercado de
trabalho no mesmo
segmento"
FETHESP: Qual será a meta da campanha salarial deste ano: Lutar por um índice de reajuste e pisos que recuperem a inflação ou buscar o aumento de benefícios sociais e econômicos que garantam essa reposição?
Augusto: Todo e qualquer reajuste que reivindicarmos hoje, por exemplo, 10%, não vai atender as necessidades de um pai de família. Mas, se for agregado mais valor aos benefícios, como o vale refeição e a cesta básica, ele pode até complementar a renda para você economizar no seu salário. Por mais que haja aumento no preço do tomate, da cebola, da batata, o dono do restaurante vai procurar diminuir esse custo e não repassar ao cliente, porque senão as pessoas vão parar de comer lá. Então se você conseguir aumentar em 15% ou 20% o valor do vale refeição, tendo um VR de R$ 26,00 por dia, significa que pode sobrar alguma coisa para gastar, por exemplo, em alguns açougues que aceitam o vale refeição. Com isso, você acaba dando sustentação maior para o orçamento do trabalhador. Já o reajuste salarial, como não são todos os segmentos que estão em crise, o mínimo que se pode aceitar é a reposição da inflação, ou flexibilizar. Os patrões não gostam mesmo de dar aumento, mas há outras formas de compensar isso.
FETHESP: Logo ao assumir a Presidência você trouxe uma série de novos convênios para os trabalhadores, como a Colônia de Férias dos Hoteleiros, Magic City e a parceria farmacêutica com a Hiperlife. Você vai continuar a fechar mais convênios? Os benefícios que o sindicato oferece estão tendo boa aceitação da categoria?
Augusto: Sem a menor dúvida. Vamos procurar ampliar os convênios que ajudem o trabalhador e sua família a não depender basicamente do Estado. Muitas vezes, o trabalhador não se preocupa com ele mesmo, mas sim com a família. E eles estão aceitando sim, houve um aumento de 5% a 10% no número de associados, independentemente da campanha da Diretoria que estamos discutindo. Naturalmente, quando você possui um leque de convênios com opções em todas as regiões da capital facilita muito para o trabalhador. Atualmente temos quatro clínicas conveniadas onde o sindicato banca as consultas em 100% e os exames em 50%, da mais simples complexidade à mais alta. Isso também ajuda no salário do trabalhador e nós vamos procurar outras pousadas, colônias e tudo aquilo que for benefício para repassar a ele.
FETHESP: O sindicato oferece cursos para técnicos em manutenção de elevadores?
Augusto: Nós temos uma parceria com o sindicato patronal. O curso é para o iniciante sem experiência no setor, que saiu de um segmento e está querendo se encaixar em uma nova área. Temos uma cota mensal, onde encaminhamos o trabalhador e os cursos são realizados no sindicato patronal pelo companheiro Sérgio, um grande professor, que há mais de 30 anos atua na área de elevadores com uma empresa de consultoria. Está dando bastante resultado. Atualmente, até no SESI (Serviço Social da Indústria) está difícil preparar um técnico em elevador, porque demora, no mínimo, 4 anos para se formar. Muitos são autodidatas, outros já têm experiência no segmento. O iniciante começa como ajudante, recebendo o piso da categoria, de quase R$ 1.100,00, mais vale-refeição de R$ 430,00 por mês, cesta básica de R$ 145,00.
FETHESP: Quais são as irregularidades mais recorrentes na relação trabalhista existente entre as empresas do setor de elevadores e os empregados, e como o sindicato lida com isso?
Augusto: Creio que, muitas vezes, o maior inimigo de toda categoria é o próprio trabalhador. É a desunião, a descrença, o descrédito em só pagar a mensalidade e não acreditar na luta. Não é pelo sindicato, mas, se a entidade sindical faz alguma coisa errada, todos pagam. E a mídia ajuda a construir essa imagem negativa: “ah, o sindicalista tal foi pego em enriquecimento ilícito”. A visão do trabalhador do dia-a-dia, e eu não tiro a razão dele, é que todos são iguais. No entanto, quando você tem uma caixa de laranjas, se uma delas está podre e você não a tirar e só ficar criticando igual rato de laboratório, ela vai contaminar toda a caixa. O correto é tirar a laranja podre e salvar as demais. Além da questão da desunião, existe também essa visão do patrão, que sabe que há a Convenção Coletiva da categoria e que ele é obrigado a cumprir, mas não cumpre. Então você tem que mandar fiscalização na empresa e aí ele passa a cumprir na dor. Alguns cumprem porque querem andar reto e, dessa forma, conseguem ter os empregados como aliados. Com isso, o trabalhador naturalmente vai demorar para precisar do sindicato, mas se a empresa deixar de pagar o salário em dia, atrasar benefícios, a primeira coisa que o empregado vai fazer é procurar o sindicato. E são os mesmos que criticam, mas isso é um comportamento normal do trabalhador.
Augusto também é 1º diretor de assuntos sindicais da FETHESP
FETHESP: Gostaria que você fizesse uma análise do movimento sindical no atual cenário de crise política, e se ele será capaz de impedir eventual retrocesso nas áreas trabalhista, social e previdenciária, que já rondam a sociedade.
Augusto: O movimento sindical perdeu a identidade própria desde o primeiro mandato do presidente Lula. A retórica do governo dele conseguiu tirar a identidade de luta do movimento sindical. A que ponto chegamos quando leio no jornal que a Força Sindical procurou fusão com a UGT. Do ponto de vista ideológico, cada central sindical defende uma situação diferente. Vai ser difícil. Da mesma forma que o País precisa de 2 ou 3 anos para voltar a crescer economicamente, o movimento sindical vai precisar desse momento de transição para voltar a ser o que era antes do governo Lula. Essa discussão da reforma da Previdência, por exemplo, o correto é não mexer em quem já tem o direito. Se quiserem fazer reforma na Previdência tem que ser daqui para frente, sem penalizar quem já está no começo, no meio e no fim, ou seja, em forma de salame: preservar quem já está nas pernas, na barriga e no pescoço. Da cabeça para cima só acontecem duas coisas: Ou cai cabelo ou cresce, então para quem entra no mercado de trabalho a reforma pode ser favorável. Quando se fala que em 2030 vai quebrar a Previdência, porque ninguém percebeu isso lá atrás, quando começaram a mexer em reformas da Previdência? O fator 85/95 já é, de certa forma, um paliativo. Ele já prejudica, mas nem tanto. E, para quem já está prejudicado por ele, ainda criam uma escala para aumentar os anos, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano. Mas esses são dados técnicos, o único que sabe com certeza é Deus. É preciso preservar os direitos adquiridos. E nas demais pautas, a redução da jornada de trabalho pode ser positiva e, ao mesmo tempo, negativa.
FETHESP: A exemplo da redução da jornada de trabalho que já é aplicada atualmente no Programa de Proteção em Emprego - PPE?
Augusto: Sim, em algumas empresas. O movimento sindical tem limitações e não consegue fechar esse acordo com todas as empresas. É preciso ter representação política. Por mais que o sindicato tenha base pequena, como o nosso, que representa empregados de 180 empresas, você não consegue fechar em Convenção Coletiva uma redução para 40 horas semanais. É muito difícil, até porque cada empresa tem porte e estrutura diferentes. Já através de representação partidária é possível transformar isso em lei para o Brasil inteiro. Haveria muita chiadeira, mas você consegue contornar.
"Hoje, as
centrais sindicais
não falam pelos
sindicatos, elas
falam pelos
trabalhadores,
o que é um
grande erro"
FETHESP: Por que antigamente as pessoas usavam o sindicalismo como meio de luta e hoje a participação do trabalhador no sindicato depende muito mais dos benefícios que ele oferece?
Augusto: Porque mudou a forma do dirigente sindical enxergar o sindicato. Ele acha que sindicato é empresa. Estou cansado de ouvir dirigentes sindicais dizerem “meu sindicato”, “meus empregados”. Na verdade, o dirigente sindical tem uma diretoria, recebe ajuda de custo porque os trabalhadores pagam, e eles só pagam quando percebem que estão usufruindo dos benefícios. Quanto a essa questão do assistencialismo, você tem que usar o dinheiro do trabalhador para dar retorno a ele, seja na forma de uma clínica odontológica, de saúde, etc. Isso é uma obrigação. Aí sim você administra como se fosse uma empresa, mas o sindicato é dos trabalhadores, e não do dirigente sindical. Além disso, também existe a falta de interesse dos empregados em participar das lutas e dos engajamentos dos sindicatos. Outro fator é que boa parte dos sindicatos grandes e de tradição foram abafados pelas centrais sindicais. Hoje, as centrais não falam pelos sindicatos, elas falam pelos trabalhadores, o que é um grande erro. Quem representa os trabalhadores são os sindicatos. Eu espero que o próprio movimento sindical acorde para essas questões.
FETHESP: Qual a sua opinião sobre o processo de impeachment e o que pode resultar para o País a permanência ou saída da presidente Dilma.
Augusto: Existe muito mais uma crise política do que uma crise econômica, haja visto que a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) tomou a iniciativa de defender a tese do impeachment da Dilma. Alguns companheiros do movimento sindical são contra o impeachment e dizem que isso é golpe. Eu não sou a favor do impeachment, mas também não acredito na tese do golpe, porque o impeachment é constitucional, e lá atrás esses partidos que estão chiando aplicaram o mesmo contra o Collor. Não podem existir dois pesos e duas medidas. É óbvio que ninguém gosta de sair do poder, mas golpe, no meu entendimento, é uma ruptura institucional, é a polícia prender dirigentes de sindicatos, dar soco em trabalhador, reprimir direitos trabalhistas. O que houve, no entanto, foi o uso de uma ferramenta política pela grande maioria para tirar a Dilma, porque o PT não teve mais condições políticas. Não é golpe.
FETHESP: E se a presidente voltar ao poder?
Augusto: Na verdade, existe um corporativismo muito grande. O problema não é a Dilma, é o PT. Então por mais que haja vários senadores arrolados em denúncias eles vão continuar se mantendo ao lado do PMDB, que assumiu um compromisso muito grande com vários partidos. Algumas centrais sindicais defenderam o impeachment, outras foram contra e a favor da manutenção da Dilma. Já a CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil) não concorda com o impeachment, nem com a mudança de lugar. A CGTB defende eleições já, porque foi o povo que colocou a Dilma no poder e é o povo que tem que eleger um novo presidente. Trocar seis por meia dúzia não vai resolver nada.
FETHESP: Você será candidato ao cargo de vereador em Ferraz de Vasconcelos/SP?
Augusto: Sim. Ferraz é uma cidade que tem, aproximadamente, 200 mil habitantes, com um colégio eleitoral de cerca de 126 mil eleitores, não está atualizado ainda no Tribunal Superior Eleitoral, mas é o último dado que nós temos no cartório local. Pela terceira vez somos candidatos e estamos indo com sacrifício para dizer que é possível contribuir para o desenvolvimento da cidade.
FETHESP: Qual o seu partido e sua principal proposta para a cidade?
Augusto: O partido é o PSL (Partido Social Liberal) e hoje temos uma probabilidade real, até porque aumentamos o número de apoiadores. Constituímos, inclusive, uma liga desportiva que tem mais de 70 clubes de diversas modalidades. Nós levantamos a bandeira do esporte, que é importantíssima. Não é só futebol, o esporte é representado de A a Z: É o ajudante da construção civil, o advogado que brinca no final de semana, o empresário, os jovens, as crianças, enfim, toda sociedade, e nós acreditamos que é possível ter uma representação segmentada dentro da câmara municipal tendo o esporte como bandeira. Acredito que todo parlamentar tem que ter um segmento de atuação, porque o candidato que não tem bandeira obviamente não tem compromisso com nada. Todo e qualquer político que queira ser representante do povo tem que ter uma bandeira, o que não significa que você vai atuar os quatro anos só na mesma área.
FETHESP: Por que o esporte como bandeira?
Augusto: O esporte consegue transformar a vida das pessoas, tanto dentro de campo quanto fora, porque é uma convivência de pessoas, é companheirismo, é saúde, é segurança, é evitar que o adolescente se envolva com drogas. Inclusive, a FETHESP tem uma bandeira histórica, desde a época do grande baluarte, companheiro Américo Gomes da Silva, que continua até hoje com o companheiro Rogério, que diz o seguinte: “Adote uma criança antes que um traficante a adote”. Isso é real, porque se você deixar uma criança fora da escola e fora de uma atividade esportiva, obviamente ela vai ficar com a cabeça vazia, e “cabeça vazia é a oficina do diabo”. Então ela vai experimentar um narguilé, um baseado, depois uma cocaína e daqui a pouco vai ser “aviãozinho” e gerente do tráfico. Então acredito que essa bandeira é importante para resgatar a cidadania perdida.
Com o ex-presidente da FETHESP, Américo Gomes da Silva, em 2010