Entrevista com Adriana de Freitas, 2ª tesoureira da FETHESP e tesoureira-geral do SindBeneficente
Adriana de Freitas, 2ª tesoureira da FETHESP: Aproximar o sindicato do trabalhador para que ele esteja junto de nós o tempo todo
O trabalho de base é o que há de mais importante no sindicalismo, pois consiste no contato pessoal entre a entidade sindical e o trabalhador. Neste contexto, deve partir do sindicalista a iniciativa de buscar o diálogo constante com o empregado que ele representa, visitando-o diretamente em seu local de trabalho para levar informações sobre seus direitos e deveres, e também ouvir suas reivindicações.
Esse serviço fundamental faz parte da rotina da diretora 2ª tesoureira da FETHESP, Adriana de Freitas, desde que ela começou a atuar no movimento sindical, em 2007. Ela divide a semana marcando presença em empresas localizadas em mais de 20 cidades da região de Bragança Paulista, onde realiza trabalho de base permanente com empregados das 9 categorias representadas pela federação.
Além disso, Adriana também administra, com a ajuda de uma funcionária, a subsede de Bragança Paulista do SindBeneficente (Sindicato Intermunicipal dos Empregados em Instituições Beneficentes, Religiosas e Filantrópicas no Estado de São Paulo), onde exerce o cargo de diretora tesoureira-geral e presta toda a assistência sindical necessária aos trabalhadores.
No dia 26 de julho, em plantão na federação, a dirigente sindical concedeu entrevista ao Departamento de Comunicação da FETHESP para falar sobre a importância do trabalho de base no movimento sindical, formas de abordar e conversar com o trabalhador, as principais demandas das categorias, problemas frequentes nas relações do trabalho entre empresas e empregados, denúncias de descumprimento de Convenção Coletiva, entre outros assuntos. Confira.
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FETHESP: Qual a importância do trabalho de base para uma entidade sindical?
Adriana de Freitas: É através do trabalho de base que o sindicato ouve as demandas e leva informações ao empregado sobre os direitos dele. Nós existimos para defender os interesses do trabalhador e, por isso, temos que conquistar a confiança dele, marcando presença no seu dia-a-dia para conseguir trazê-lo para a luta do sindicato e associá-lo.
FETHESP: Como é o trabalho dos diretores na base?
Adriana: Nosso trabalho é levar as informações para o trabalhador, explicando como é a nossa luta para conquistar os direitos adquiridos pela Convenção Coletiva, que têm que ser cumpridos. Temos que aproximar o sindicato do trabalhador e ganhar sua confiança para que ele esteja junto de nós o tempo todo, nos trazendo as informações do que está errado em seu local de trabalho. Também é importante estar presente na rotina da empresa para que o empregador saiba que defendemos os funcionários no dia-a-dia e, se existir algo irregular nas relações de trabalho, iremos encaminhar a constatação das irregularidades para a direção do sindicato e para o departamento jurídico da nossa entidade sindical, a fim de definir quais providências tomar.
FETHESP: Quais são os problemas mais frequentes que você encontra nas relações de trabalho entre empregado e empregador?
Adriana: De modo geral, jornada de trabalho irregular, horário inadequado para refeição, falta de pagamento de cesta básica, que é um benefício conquistado por nós em Convenção Coletiva e precisa ser fornecido. Muitas vezes também não são cumpridos piso e reajuste salariais. São inúmeras queixas.
FETHESP: Uma vez averiguado o problema, quais são os procedimentos adotados pela entidade sindical?
Adriana: Nós levamos as irregularidades ao conhecimento da Presidência, da Diretoria e do Departamento Jurídico da entidade sindical, seja o sindicato ou a federação, onde é feita a avaliação do problema. Posteriormente convidamos a empresa para vir à uma reunião para tentar solucionar o problema. Caso não seja resolvido, chamamos o empregador para uma mesa redonda com o Ministério do Trabalho, onde buscamos chegar a uma solução. Se isso não for possível, o Departamento Jurídico abre uma ação judicial, que é a última alternativa.
FETHESP: Qual é a porcentagem de casos que são resolvidos sem a necessidade de ação judicial?
Adriana: Nós conseguimos solucionar 60% dos casos somente levando a empresa para uma reunião no sindicato. Outra parcela razoável dos casos é resolvida em mesa redonda com o Ministério do Trabalho. E, finalmente, nos demais casos é preciso ir ao judiciário.
Adriana realiza trabalho de base com trabalhadores de instituição beneficente, em Santos/SP
FETHESP: Qual a sua opinião sobre a dificuldade que a maioria dos sindicatos têm para se aproximar dos trabalhadores que eles representam?
Adriana: Isso ocorre em razão de muitos sindicatos não fazerem trabalho de base e, com isso, todo o movimento sindical acaba perdendo a confiança do trabalhador. E não estou falando especificamente dos sindicatos filiados à FETHESP, podemos melhorar a atuação na base, sem dúvida, mas vejo que o movimento sindical, como um todo e em todo o País, precisa sair às ruas com maior frequência, estar definitivamente na base, onde se fala cara a cara com os trabalhadores. Quando um sindicato deixa de estar efetivamente na base aumenta a facilidade dos patrões para cometer abusos contra os empregados, os coagindo e desrespeitando seus direitos. Os sindicatos têm a obrigação de se aproximar do trabalhador e isso se faz com trabalho de base.
FETHESP: Você fala com entusiasmo sobre estar na base, de onde vem essa energia?
Adriana: Comecei no sindicalismo indo para rua todos os dias, no início tinha receio e um pouco de medo, mas isso me fez crescer, aprendi a respeitar o meu trabalho e estudei muito. Quando temos segurança, fazemos com amor e trocamos o medo por respeito, e então percebemos que estamos resolvendo o problema dos companheiros de forma natural. Tiramos força de onde nem imaginamos (risos).
FETHESP: Gostaria que você falasse sobre como o sindicato age após receber uma denúncia do trabalhador.
Adriana: Geralmente nós recebemos a denúncia por telefone. O trabalhador liga e faz a denúncia, que, na maioria das vezes, é referente a descumprimento da Convenção Coletiva pelo patrão. Nosso primeiro procedimento é ir até a empresa para ver se a irregularidade realmente está acontecendo. Quando não nos permitem entrar temos que aguardar a saída do trabalhador. Dificilmente o empregado conversa sobre denúncia dentro do seu local de trabalho em uma reunião ou assembleia, porque depois poderá sofrer represália do empregador. Quando não temos as portas abertas, entregamos informativos na porta da empresa e também anotamos as irregularidades. No final o patrão percebe que precisa cumprir a legislação e a Convenção Coletiva, porque o sindicato está ativo na defesa dos seus representados. A partir daí a empresa começa a abrir as portas para a entidade sindical e também ganhamos a confiança do trabalhador, que reconhece nossa atuação.
FETHESP: Um informativo é fundamental para a realização do trabalho de base?
Adriana: Não somente o informativo, é preciso haver a presença do assessor de base, porque o trabalhador terá dúvidas, ele não conhece a Convenção Coletiva, então é preciso estar ali explicando todos os direitos adquiridos. É fundamental que o assessor de base tenha conhecimento de todas as cláusulas da Convenção Coletiva.
FETHESP: Durante o trabalho de base é comum o trabalhador fazer questionamentos jurídicos. Como você se prepara para responde-los?
Adriana: Eu me preparo no dia-a-dia, buscando as informações para tentar responder. Há, claro, muitos questionamentos que eu tenho que passar para o Departamento Jurídico para, em seguida, esclarecer ao trabalhador. Por isso os nossos departamentos de base e jurídico e a Diretoria trabalham em sintonia. Nós estamos sempre juntos, marcando reuniões para resolver os problemas, acompanhando as mudanças na legislação e nos atualizando para estarmos preparados para resolver essas questões de forma ágil.
FETHESP: Gostaria que você falasse sobre um momento marcante na sua experiência no movimento sindical.
Adriana: No dia 6 de agosto de 2015, no município de São Vicente/SP, aproximadamente 300 trabalhadores do terceiro setor, em greve, lotaram a Câmara Municipal da cidade para fazer uma cobrança ao município em função da falta de pagamento de salários. Naquela ocasião a administração municipal havia deixado mais de 70 creches conveniadas de São Vicente sem repasse de verba e os trabalhadores ficaram a ver navios, sem receber salário, cesta básica, enfim, sem benefício algum. Minha experiência, como dirigente sindical, foi juntar forças com os trabalhadores para fazer a reivindicação do pagamento no microfone. Não foi fácil, mas me senti privilegiada por poder ajudar. Falamos para todos os vereadores. Agradeço a Deus todos os dias e sinto uma enorme gratificação ao ver que o trabalhador pôde receber seu salário, pagar suas contas em dia, receber a cesta básica e ter seus direitos respeitados.
Adriana discursou na Câmara Municipal de São Vicente/SP em defesa dos empregados do terceiro setor
FETHESP: Na região de Bragança Paulista, onde você administra uma subsede do SindBeneficente, já ocorreu alguma greve?
Adriana: Sim, a última foi no dia 27 de maio de 2015, em uma entidade do terceiro setor de Bragança Paulista, a Associação São Lucas, que deixou os funcionários sem pagamento de salário. Fizemos a notificação, começamos a paralisação e, no terceiro dia, a instituição fez o pagamento e os empregados voltaram a trabalhar. Tivemos o apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Comercio Hoteleiro de Bragança Paulista na greve.
FETHESP: Quais as atribuições e quantos municípios são abrangidos pela subsede do SindBeneficente em Bragança Paulista?
Adriana: São vinte municípios. Temos na subsede a Taís, nossa funcionária, que conta com o apoio do presidente e dos funcionários da sede para a realização do trabalho administrativo e, claro, do nosso trabalho de base. Procuramos resolver os problemas com agilidade para garantir a confiança dos trabalhadores e principalmente dos associados.
FETHESP: Falando de sindicato, onde você também é tesoureira-geral, qual o maior anseio das categorias que você representa com relação a benefícios?
Adriana: Há uma carência de convênio odontológico, porque por mais que nós lutemos para melhorar o salário do trabalhador, ele não tem condição de pagar um convênio odontológico. Para tratar um canal, hoje em dia, se paga 400 ou 500 reais. O sócio do sindicato tem à sua disposição tratamento gratuito na sede em Santo André e nas subsedes de Bragança Paulista e Santos, para ele e seus dependentes. Há também uma necessidade muito grande de plano de saúde e nós estamos correndo atrás. Tanto a federação quanto o SindBeneficente, nos quais estou na Diretoria, estão em busca de parceria com um plano de saúde para tentar reduzir esse custo para o trabalhador.
FETHESP: Atualmente existe um movimento muito grande do Ministério Público contra os sindicatos e há, inclusive, um precedente normativo que possibilita ao trabalhador não contribuir mais com as entidades sindicais. Como você lida com essa situação?
Adriana: É daí que vem a importância do trabalho de base. Se o sindicato for atuante na representação do trabalhador no dia-a-dia, se fizer um bom trabalho administrativo, se criar benefícios aos trabalhadores, eles não vão querer fazer oposição. E a empresa não pode induzir nem coagir o funcionário a se opor ao sindicato, porque isso é prática anti sindical. Essas empresas geralmente não cumprem a Convenção Coletiva, fazem tudo errado e fazem de tudo para que seus empregados não se aproximem do sindicato. Por isso é importante estar diariamente junto do trabalhador, mostrando tudo o que o sindicato faz e oferece, garantindo que ele esteja sempre amparado.
FETHESP: Que mensagem você deixaria aos sindicatos do grupo?
Adriana: Que estejam sempre alertas aos desejos e necessidades dos trabalhadores que eles representam. Quando o sindicato esquece de ouvir a categoria, quem perde é o sindicato. E também que podem contar com nosso apoio em tudo aquilo que julgarem necessário. Estou à disposição dos nossos sindicatos filiados para ajudar sempre que precisarem.