Entrevista com Luiz Vecchia, presidente do SETETUR e 3º vice-presidente da FETHESP
Luiz Vecchia, na sede do SETETUR, em São Paulo/SP: “Agências que resistiram (à crise) vão continuar”
À medida que se aproxima o dia 1º de novembro, data-base dos empregados em empresas de turismo do Estado de São Paulo, aumenta a expectativa da categoria sobre a negociação coletiva, que irá determinar o índice de reajuste, pisos salariais e benefícios econômicos, como vale-refeição, vale cesta e prêmio mensal de permanência.
A primeira reunião entre as entidades sindicais profissionais, encabeçadas pela FETHESP, e o sindicato patronal deverá ocorrer no início de outubro e os representantes dos trabalhadores já estão com a pauta de reivindicações pronta para a negociação, que promete ser uma das mais difíceis dos últimos anos, conforme prevê Luiz Vecchia, presidente do SETETUR (Sindicato da Categoria Profissional dos Empregados e de Trabalhadores em Empresas de Turismo no Estado de São Paulo), filiado à federação.
Vecchia, que está no movimento sindical há mais de 50 anos e conhece como poucos o mercado profissional do turismo, dá como certa a resistência dos patrões em conceder os pedidos dos trabalhadores sob a alegação de que as empresas sofreram com as consequências da crise político-econômica.
Ele sustenta, no entanto, o argumento de que o pior momento da economia já passou e que as agências e operadoras de turismo não perderam dinheiro, apenas lucraram menos em comparação a anos anteriores, haja visto que as grandes companhias estão comprando as empresas menores.
Para falar sobre a campanha salarial de 2016 e outros assuntos envolvendo o sindicato, como serviços e benefícios oferecidos aos trabalhadores, o presidente do SETETUR concedeu entrevista à FETHESP, no dia 23 de setembro. Confira, a seguir, como foi a conversa.
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FETHESP: Quais são as reivindicações dos trabalhadores representados pelo SETETUR para a campanha salarial 2016?
Luiz Vecchia: Neste ano nossa pauta é só econômica. Nós estamos reivindicando reajuste de acordo com o INPC/IBGE de novembro de 2016 mais aumento real de 1%, piso salarial de R$ 1.200,00 para as funções de faxineiro, office-boy, copeira e recepcionista, e de R$ 1.400,00 para as demais funções. Estamos pedindo também vale refeição de R$ 31,00 por dia, auxílio alimentação/vale cesta de R$ 250,00 por mês e prêmio mensal de permanência de R$ 30,00.
FETHESP: É praticamente certo que os patrões irão alegar na negociação que há crise no cenário financeiro. Como o sindicato vai lidar com isso?
Vecchia: Como todas as categorias, a nossa não é diferente. Eles (patrões) vão alegar crise, vão chorar. Mas, no meu entendimento, eles não estão perdendo dinheiro, estão ganhando menos. As empresas estavam vendendo, por exemplo, R$ 1 milhão, depois passaram a vender R$ 2 milhões, R$ 3 milhões, chegaram a vender R$ 5 milhões, e aí baixou para R$ 4 milhões. Agora dizem: “Olha, baixou”, mas não contam todo esse período em que estavam ganhando mais dinheiro. Por isso, minha alegação é que as empresas não perderam dinheiro, ganharam menos.
FETHESP: No ano passado o reajuste salarial negociado foi fracionado: A 1ª parcela, de 7%, foi paga em novembro/2015 e a 2ª parcela, de 2,5%, foi paga em maio/2016, totalizando o índice de 9,5%. Essa estratégia de negociação pode ser repetida neste ano?
Vecchia: Foi uma proposta nossa, naquela ocasião, para conseguirmos um valor maior. Nós aceitaremos, sem dúvida. O mínimo aceitável é o que nós estamos pedindo: o índice mais 1% de aumento real. Isso foi o que a nossa assembleia deliberou. Vai ser uma negociação muito difícil, eu sei que eles (patrões) vão lamentar, chorar, dizer que a situação está difícil, mas creio que as agências que tinham que fechar já fecharam. Daqui para frente aquelas que resistiram vão continuar.
FETHESP: Sabemos que a negociação deste ano é apenas econômica, mas, com relação às cláusulas sociais, quais são as demandas da categoria atualmente?
Vecchia: Estamos reivindicando já há uns 5 ou 6 anos a PLR (Participação nos Lucros e Resultados), mas ela é sempre rejeitada pelo patronal. Outra reivindicação é a garantia de emprego por 60 dias para o funcionário que retorna de férias. Isso eles (patrões) também sempre negam. Geralmente quando o empregado sai de férias o patrão contrata outro por um salário menor e, quando ele volta, o funcionário novo já aprendeu o serviço. Aí o patrão pensa: “Por que eu vou pagar para ele um salário mais alto pelo mesmo trabalho que o outro vai fazer recebendo menos?”. Não é uma regra, mas algumas agências fazem isso.
FETHESP: Como estão as homologações do sindicato?
Vecchia: Se nós tomarmos por base o normal, o número de homologações está baixo. Há um fator diferente na nossa categoria. Existem diversas companhias grandes que compram outras. Por exemplo, a FlyTour comprou três ou quatro empresas, e algumas delas tinham 400, 600, 800 funcionários, então ela teve que enxugar esse quadro, porque não tinha lugar para colocar tanta gente naquele prédio enorme que eles têm em Alphaville, então demitiram trabalhadores. A nossa média é de 17 a 20 homologações por dia, contando com as demissões dessas empresas. Outra empresa grande, a CVC comprou a Submarino Viagens e enxugou o quadro de empregados. Então, de uns 4 ou 5 meses para cá, aumentou o número de homologações por esse motivo. As empresas pequenas e médias já não estão mais demitindo, apenas uma ou outra.
FETHESP: Esses trabalhadores que são demitidos estão conseguindo se recolocar no mercado do turismo?
Vecchia: Como a praça está cheia de bons funcionários, que conhecem bem o ramo, os patrões mandam embora os funcionários que ganham salário de, por exemplo, R$ 2.500,00 ou R$ 3.500,00 e pegam outros para pagar R$ 1.200,00 ou R$ 1.500,00. O sujeito que estava ganhando R$ 3.500,00, R$ 4.000,00 em outra empresa aceita trabalhar por menos, porque está desempregado. Isso tem acontecido.
FETHESP: O sindicato auxilia na recolocação desse profissional?
Vecchia: Os trabalhadores deixam o currículo aqui, no sindicato, pelo e-mail curriculum@setetur.com.br e as empresas têm nos solicitado currículos frequentemente. Além disso nós também fazemos cursos com temas relacionados a todas as áreas do turismo, como vendas, tarifas e tudo que está dentro do conceito do setor. Qualquer um pode participar e os cursos são gratuitos.
FETHESP: Quantos cursos em média o sindicato faz por ano?
Vecchia: Geralmente, quatro cursos. Neste ano nós já fizemos três, estamos pensando em fazer outro agora em outubro. O curso dura um dia, nós fornecemos apostilas, certificado e todo material necessário. Aos sábados a duração é das 8h às 13h e oferecemos um café da manhã. As dúvidas e inscrições nós recebemos por e-mail: setetur@setetur.com.br
FETHESP: Quais benefícios o sindicato oferece na área da saúde?
Vecchia: Nós temos uma gama de serviços de médicos e laboratórios. Isso apenas para os associados. Temos convênios com dentistas, a consulta, normalmente, é gratuita, e o sindicato sempre paga uma parte do restante do valor do tratamento.
FETHESP: Esses serviços também são estendidos aos familiares dos associados? Qual o valor da contribuição para se associar ao sindicato?
Vecchia: Também podem usar os serviços pai, mãe e filhos de até 14 anos. Nós cobramos R$ 50,00 por semestre.
FETHESP: Quais outros benefícios o sindicato oferece aos associados?
Vecchia: Você pode ver no nosso site (www.setetur.com.br) que temos convênios com diversas faculdades, temos feito um movimento muito grande nesse sentido. Firmamos ainda nesta semana convênio com uma psicóloga. Temos serviços de todos os tipos e eles têm tido ótima aceitação. Outra vantagem é que muitos deles estão localizados no centro (da cidade de São Paulo), onde fica a maioria das agências.
FETHESP: Gostaria que você falasse sobre a “Conciliatur“, regulamentada pela Lei 9.958 de janeiro de 2000, resultante de acordo firmado entre Setetur e Sindetur (sindicato patronal de turismo).
Vecchia: Nós fomos o primeiro sindicato do Brasil a implementar a “Conciliatur”. Quando o trabalhador faz uma reclamação ao nosso departamento jurídico, como, por exemplo: “A agência não pagou meu salário”, nós formamos um processo e, antes de irmos à Justiça, vamos para a "Conciliatur” para tentarmos fazer um acordo entre o empregado e a empresa, com o intermédio do sindicato. Quando isso foi instituído pelo governo, nenhuma DRT (Delegacia Regional do Trabalho) aceitava o processo antes de ele passar por aqui. Atualmente, já não tem a mesma eficiência, mas no começo chegávamos a um acordo em 78% dos casos. Com o tempo os próprios advogados começaram a dizer para as empresas que não interessava fazer acordo e passaram a entrar direto na Justiça, porque lá demora mais, eles ganham mais. É uma pena, porque a conciliação tira muitos processos da Justiça do Trabalho e o que é assinado aqui tem força de lei.
FETHESP: Para finalizar, gostaria que você falasse sobre a opção da Diretoria do SETETUR em não se filiar à uma central sindical.
Vecchia: Nossa Diretoria afirma sempre que nós somos livres e independentes. Há uma central sindical que diz que nós somos filiados a ela, mas nós nunca assinamos nada e nunca tivemos conversa alguma com alguém de lá. Nós não temos dependência nenhuma, não precisamos de união com uma central. Para nós a independência é uma questão importante. Não devemos obrigações.
FETHESP: Você tem alguma consideração final a fazer sobre a campanha salarial?
Vecchia: Como eu disse, não vai ser diferente das outras categorias. Reconhecemos a crise, as dificuldades das empresas, mas elas já enxugaram a mão-de-obra que tinha que ser enxugada. Atualmente as agências que estão funcionando estão ganhando dinheiro. Além disso, estamos indo agora para uma mesa redonda e, em seguida, já vamos ter a nossa primeira reunião (de negociação coletiva) e a FETHESP será comunicada.