Por Rogério Gomes
Após quatro meses de promulgada a lei da reforma trabalhista os trabalhadores ainda não perceberam o poder que as empresas passaram a ter depois das mudanças implantadas.
Alguns trabalhadores estão iludidos com a ideia de que ganharam alguma coisa com o não pagamento da contribuição sindical e se esquecem de que isso resulta no fim do movimento sindical. Demissões em massa de funcionários de centrais sindicais, de confederações, de federações e de sindicatos, em todo o país. Venda de equipamentos, fechamento de sedes, colônias de férias, clubes de campo, departamentos médicos, jurídicos, de conciliação trabalhista, de fiscalização de base – tudo radicalmente desestruturado.
Como última consequência: a enorme dificuldade nas negociações coletivas, com perda de conquistas econômicas e sociais e dos serviços sindicais, pois, com a diminuição de pessoal, de estrutura física e econômica, torna-se muito mais penosa a atividade sindical. O prejuízo é somente dos trabalhadores.
Por esses motivos, é fundamental alertar a classe trabalhadora para que não se deixe enganar pela falsa ideia de que não contribuir com o sindicato é ganhar. Os trabalhadores devem estar dentro das entidades sindicais, participando da vida ativa do sindicato e da discussão política.
É importante ressaltar, ainda, que na hora da necessidade, nenhum patrão vai simplesmente dizer que tem que aumentar salário do empregado, dar mais benefícios, reestruturar o ambiente de trabalho e implementar as exigências contidas nas normas regulamentadoras do trabalho, entre outras coisas, por livre e espontânea vontade.
Essa prática pode ocorrer dentro do mercado de trabalho pela vontade de empresários realmente conscientes e preocupados com seus trabalhadores. Não é a maioria! Infelizmente, uma minoria de patrões tem consciência da importância da qualidade de vida do trabalhador e entende que um empregado valorizado produz mais e melhor.
Todo empresário é essencialmente capitalista, e o capitalismo dita, como regra fundamental, que quanto maior o lucro, melhor para o dono da empresa.
Empregados geram custos, geram gastos, geram encargos, geram impostos. Como consequência disso ocorre a diminuição do emprego formal, aumento de contratos intermitentes, de trabalho terceirizado e de mão de obra informal.
E sem a assistência sindical, os trabalhadores passam a correr muito mais riscos. Patrões não dirão que devem mais do que o apurado em cálculos de rescisão contratual, o que se constata diuturnamente na conferência dos termos de rescisão trabalhista. Nenhum empregador dirá: “Olha, eu fiz uma conta aqui, nessa conta eu te devia 10, mas, na verdade, te devo 30”. Quem fiscaliza e apura essas diferenças é o sindicato.
A diminuição do quadro de funcionários e da estrutura física e econômica da entidade sindical fortalece somente o empregador e tira do empregado sua entidade de classe, que existe para defender seus interesses e direitos.
Essa reforma vem em benefício dos patrões e, definitivamente, nós do movimento sindical, estamos preocupados por ver que muitos trabalhadores ainda não enxergaram o tamanho dos problemas que as novas regras trazem e o poder dos empresários a partir dessa DEFORMA trabalhista.
Rogério José Gomes Cardoso é presidente da Federação dos Empregados em Turismo e Hospitalidade do Estado de São Paulo - FETHESP